domingo, 5 de dezembro de 2010

Torradas com geléia...








Quando te fores embora, não faças barulho. Prefiro não saber, não te ouvir, não sentir ao olhar a tua sombra na parede e perceber que pode ser a última vez que a luz desenha o teu perfil aquilino, metade pássaro, metade imperador. Prefiro não saber que partes, porque ao menos assim, não choro a tua ausência, porque não me foi anunciada. E se não fizeres barulho e eu continuar adormecida, no dia seguinte vou imaginar que acordei em um outro lugar, que entrei numa dimensão desconhecida, que mudei de nome e de coração e que, como nunca te conheci, não posso chorar a tua perda. 
Prefiro que partas de noite, quando os espíritos inconformados e sem pátria descem à terra à procura de uma alma distraída, porque assim não te vejo a olhar para a cama, a parar os ponteiros do relógio para guardares para sempre na tua memória o nosso último momento.
Sempre imaginei que partirias assim, e quanto mais me dizes que me amas e que sou a mulher da tua vida, mais me convenço que estou certa e que pode ser isso mesmo, um dia te podes levantar da cama, a meio da noite, fugindo para sempre do teu ninho, só porque tens medo de nunca mais o conseguir abandonar.
Disse-me outro dia um amigo, sábio nos mistérios dos corações dos homens, que os homens têm medo das mulheres que amam. E têm medo que elas os traiam. E têm medo de ser felizes ao lado delas. E que a culpa manda no medo, manda na vontade, manda acima do desejo e do sonho, que a culpa é que decide e sabe e marca todos os passos.
Se voltar à terra, numa outra vida, talvez Deus me faça homem em vez de mulher e então pode ser que perceba esse medo tão estranho e absurdo que os homens parecem ter das mulheres. Talvez perceba porque é que tantos desistem daquela mulher mesmo sabendo que é aquela a que eles mais amam e exactamente por isso mesmo a deixam. Talvez entenda porque se afastam dos filhos quando são ainda pequenos, porque rejeitam as mães que sempre os protegeram, porque preferem a guerra, o poder, o cheiro das armas e da luta à doçura de um serão à lareira com chá de cidreira e torradas com geleia.
Se Deus me fizer um dia homem, talvez entenda a culpa, o peso da honra, o esforço das lágrimas invisíveis, o torpor surdo depois de um murro no estômago e outras coisas de rapazes, como as praxes, as partidas, as jantaradas de grupo e as despedidas de solteiro.
Mas enquanto isso não acontece, deixa-me dormir com a porta do quarto aberta, porque é por te amar tanto que aceito que um dia poderás partir e acredita que se o fizeres, posso até aceitar, mesmo que nunca te entenda.
É que o amor é mesmo assim, saber aceitar é o seu primeiro segredo. E os outros vêm a seguir.


Achei MARAVILHOSO esse texto da Margarida Rebelo Pinto.....

Uma semana mágica para todos....

6 comentários:

  1. Perfeito, Minha Amada Flor...

    Nossa esse texto é deuma emotividade tamanha,que meche dentro bem dentro de feridas bem guardadinhas...
    Bela descoberta,Margarida Rebelo...que bom q gostaste e esteja praticando.

    Sabe sobre estar preparada pra esta partida absurda dos homens q tem medo de serem amados,
    nunca estaremos preparadas...

    Pois quando amamos; amamos pra ficar juntos eternizados.E os homens ampenas enquanto isto não lhe afetem a sobriedade.

    Mulheres se dooam,e os homens se emprestam...

    bjks no core !

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  2. Dani minha querida, obrigada por tuas orações, realmente sinto toda a energia boa fuir até mim, e aqui estou mesmo corrida, só para agradecer tal gesto gratuito cheio de carinho.Te gosto muito tb querida!É maravilhoso sentir o amor ... esse sentimento tão incondicional, sempre de portas abertas, escancaradas!!! Beijo minha flor!

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  3. Querida, Feliz ano novo....
    Um 2011 com muita paz, alegria, e prosperidade....

    BJs

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  4. Dani.... sumiu.... eu adoro seus posts......
    manda noticias.....

    beijos

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